Implementação da ação educativa – Uma Ação!
O comportamento alimentar da criança é determinado pela interação da criança com o alimento, pelo seu desenvolvimento e influências emocionais, psicológicos, socioeconômicos e culturais. Sabe-se que a formação dos hábitos alimentares é o produto da interação da criança com a própria mãe ou a pessoa mais ligada à sua alimentação neste caso é também a creche, a primeira instituição que pode intervir desde o início da educação. As crianças tendem a se alimentar melhor quando fazem refeições em grupo e quanto mais coloridas mais chamam a atenção e abrem o apetite. Esse processo de sociabilização é importante e eles interagem com os alimentos que lhes são oferecidos e com o modo como são preparados.
A creche é composta por 100 pessoas envolvidas diretamente com o processo da educação. Composta por 87 crianças, 6 professores e 6 cantineiros, de acordo com a direção da creche e coordenação da pedagogia da SME.
O ambiente positivo age como facilitador do desenvolvimento normal da criança, pois possibilita a exploração e a interação com o meio e estimula o seu cérebro ainda em formação, favorecendo as possibilidades de seu aprendizado.
Pensando na promoção da saúde, prevenção de doenças nas crianças e também englobar pessoas que pudessem ser multiplicadoras, foram realizadas as seguintes ações, cujos resultados também são discutidos:
Ação: Antropometria e classificação nutricional
Avaliação do estado nutricional das crianças estudantes, dentro da faixa etária de 12 meses a 3 anos e 11 meses, da Creche Nana Sette Câmara, que se localiza na região do Bairro Padre Faria. Atenção especial será oferecida aos beneficiários do Programa Bolsa Família, com encaminhamentos para o Núcleo de Apoio a Equipe Saúde da Família (NASF).
A antropometria foi realizada no dia 28/03/2016, segundo as normas do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) – Protocolos:
(189.28.128.100/nutricao/docs/geral/protocolo_sisvan.pdf.). Contou-se com o apoio de 02 alunos da UFOP (do curso de Nutrição e outra de Educação Física) e dos professores de cada sala. Foram necessários o uso dos seguintes instrumentos para a operacionalização:
• Equipamentos antropométricos: balança pediátrica e de plataforma; infantômetro (estadiômetro infantil ou horizontal);
• Calculadora para a identificação do Índice de Massa Corporal (IMC) e posteriormente digitação no sistema Sisvan Web;
• Mapa de acompanhamento do SISVAN para a criança;
• Avaliação segundo critérios definidos no SISVAN
Fotos da antropometria:
Do total de 71 crianças matriculadas, foi possível realizar a antropometria de 65, que foram classificadas segundo o quadro 1, quando observamos, pela classificação por Índice Massa Corporal (IMC)/OMS, uma alta concentração (64,62%) de crianças com peso abaixo do esperado (somatório da magreza, magreza acentuada) e 4,61% com peso acima do esperado (soma dos risco de sobrepeso e sobrepeso). Foram identificados apenas quatro crianças pertencentes ao programa Bolsa Família, que estudam na creche, sendo três classificadas com eutrofia e uma com magreza acentuada.
Quadro 1: Avaliação do risco nutricional das crianças avaliadas na Creche Nana Sette Câmara. Ouro Preto, março de 2016
2) Avaliação do Consumo Alimentar
Após ser acordada com a diretora da Creche, a direção enviou no período de 20 a 27/03/16, a cada mãe/responsável uma cópia do formulário do Consumo Alimentar do SISVAN para ser respondido conforme a faixa etária, e posteriormente foi avaliado. Um total de 28 formulários dos 71 esperados foi respondido em tempo hábil, segundo a faixa etária. Percebeu-se que apenas entregar o formulário, mesmo com explicação prévia não garante que todas as perguntas sejam devidamente respondidas. A melhor dinâmica é estar junto com a mãe/responsável para responderem ao formulário corretamente e não deixarem de ser respondida nenhuma questão. Veja os quadro 1 e 2 abaixo:Quadro 1: Avaliação do consumo alimentar das 17 crianças, entre a faixa de 12 a 23 meses, que responderam ao formulário do SISVAN na Creche Nana Sette Câmara. Ouro Preto, março de 2016.
O consumo de arroz, feijão foi em 100% dos avaliados. Muito responderam que não sabia o que sua criança alimentou no dia anterior. Ainda há oferecimento de alimentos peneirados. Foram identificados apenas três formulários do consumo alimentar das crianças pertencentes ao Programa Bolsa Família, sendo todos maiores de dois anos.
Quadro 2: Avaliação do consumo alimentar das 11 crianças, entre a faixa de 24 a 32 meses, que responderam ao formulário do SISVAN na Creche Nana Sette Câmara. Ouro Preto, março de 2016
As crianças fazem mais de 4 refeições por dia. E o consumo de guloseimas ainda é muito acentuado.
Outros resultados obtidos perguntando a cada professor, foram em relação ao total de crianças que usam bico/chupeta na creche: 08, que utilizam mamadeira: 04 e que ainda mamam no peito: 07.
3) Ação educativa sobre Alimentação Saudável, Segura e Sustentável
A alimentação complementar adequada deve compreender uma composição balanceada de alimentos com quantidade adequada de macronutrientes e micronutrientes (particularmente ferro, zinco, cálcio, vitamina A, vitamina C e ácido fólico), sem contaminações (biológica, química ou física), de fácil consumo e aceitação (Giugliani, 2004).
Foi inicialmente proposta uma Oficina delineada previamente no plano de ação inicial, pela responsável por este projeto, que é tutora da EAAB pelo Ministério da Saúde com apoio da nutricionista da ESF Flor de Liz que é tutora da ENPACS e também com apoio de estagiária em nutrição. O convite foi para a participação das nutricionistas da Educação e da Saúde, funcionários da creche, mães/responsáveis pelas crianças, funcionários da Casa de Cultura e do CAPS- ad.
Mas não foi possível fazer a oficina conforme planejada para o dia 05/04/16. O público esperado era 6 Auxiliares Escolar (preparadoras de alimentos) da Creche; 10 mães e/ou responsáveis pelos 71 alunos; as nutricionistas da UBS e da Secretaria de Educação (total 3); 2 funcionárias da Casa de Cultura, também responsáveis pelo Cantinho da Amamentação e a diretora da creche. Também foi enviado aos conselheiros do Programa Bolsa Família e da criança e do adolescente um convite pela Casa dos Conselhos para participação dos seus membros.
No dia anterior (04/04) fui chamada pela coordenadora das creches e pela diretora interina (a diretora da creche está com dengue e de licença há mais de 10 dias) que pediram para eu rever o tempo da oficina, porque que os profissionais iam fazer paralisação na quinta, que duas auxiliares estavam de licença (atestado de saúde de ontem para hoje), que uma ia chegar mais tarde e que a outra ia sair mais cedo. Assim o horário passou a ser das 11horas às 12h30minutos.
No dia 05/04 com os participantes, decidimos realizar apenas uma “Roda de Conversa” e esta com certeza vai dar bons frutos. Com duração inicial de duas horas (horário cedido pela diretora da creche).
A roda de conversa iniciou-se com o acolhimento dos participantes e a apresentação quando utilizamos a dinâmica de falar o nome, a profissão, uma fruta e um legume ou verdura que mais gosta de comer (todos participaram ativamente!) e a partir daí começamos a conversar sobre estes alimentos citados (frutas: abacaxi, manga, banana, laranja, Kiwi, uva, pêra, caqui e verduras e legumes: alface, couve, taioba, mostarda, couve-flor, cenoura, beterraba), suas formas de preparação, valor nutricional, utilização nas refeições oferecidas pela creche e neste momento foi mencionado a importância do aleitamento materno, estímulo ao Cantinho da Amamentação e a Semana Mundial do Aleitamento Materno- SMAM/ Agosto dourado em Ouro Preto e apresentado um prato nas proporções oferecidas as crianças em média com 24 meses, neste dia:
O Cardápio do dia foi: Guisado de legumes (abóbora, abobrinha, tomate, cebola e cenoura vermelha) com carne cozida; arroz com cenoura e feijão batido (veja a foto do prato acima).
Discutimos rapidamente sobre a Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil – EAAB e cada passo da Alimentação Saudável para menores de 2 anos (10 Passos):
- Passo 1 - Dar somente leite materno até os 6 meses, sem oferecer água, chás ou qualquer outro alimento;
- Passo 2 - Ao completar 6 meses, introduzir de forma lenta e gradual outros alimentos, mantendo o leite materno até os dois anos de idade ou mais;
- Passo 3 - Ao completar 6 meses, dar alimentos complementares (cereais, tubérculos, carnes, leguminosas, frutas e legumes) três vezes ao dia, se a criança estiver em aleitamento materno;
- Passo 4 - A alimentação complementar deve ser oferecida de acordo com os horários de refeição da família, em intervalos regulares e de forma a respeitar o apetite da criança;
- Passo 5 - A alimentação complementar deve ser espessa desde o início e oferecida de colher; iniciar com a consistência pastosa (papas/purês) e, gradativamente, aumentar a consistência até chegar à alimentação da família;
- Passo 6 - Oferecer à criança diferentes alimentos ao dia. Uma alimentação variada é uma alimentação colorida;
- Passo 7 - Estimular o consumo diário de frutas, verduras e legumes nas Refeições;
- Passo 8 - Evitar açúcar, café, enlatados, frituras, refrigerantes, balas, salgadinhos e outras guloseimas, nos primeiros anos de vida. Usar sal com moderação;
- Passo 9 - Cuidar da higiene no preparo e manuseio dos alimentos; garantir o seu armazenamento e conservação adequados;
- Passo 10 - Estimular a criança doente e convalescente a se alimentar, oferecendo sua alimentação habitual e seus alimentos preferidos, respeitando a sua aceitação.
Também discutimos sobre os dados obtidos do SISVAN, no ano de 2015 para a região da ESF Flor de Liz (veja os cartazes confeccionados) as quantidade de sal e açúcar oferecidos as crianças e o uso dos alimentos muito processados (salgadinhos, chips, iogurtes, sucos artificiais, achocolatados). Estímulo a horta caseiras e na creche (uma mãe vai se responsabilizar junto a direção para cuidar da creche). Foi proposto o plano de “Plantar uma árvore de fruto comestível no seu espaço verde em sua casa!”, e para estímulo todos saborearam uma mexerica sem agrotóxicos.
A prática foi a discussão da textura dos alimentos no prato oferecido e foi medir as quantidades de colheres correspondentes, que foram um total de 5 colheres de sopa cheia e o ideal seria 9 colheres (ou uma xícara ou tigela de 250 ml), portanto estava abaixo do recomendado para a faixa etária de 12 meses a 24 meses, segundo as diretrizes do Guia Alimentar para Crianças menores de dois anos (Ministério da Saúde, 2010), também foi mencionado sobre a utilização de óleo, gordura, sal e açúcar em pequenas quantidade para maiores de 3anos e oferecer alimentos in natura ou minimamente processados.
Inclusive em datas comemorativas rever o cardápio normalmente oferecido (cachorro quente e docinhos, por mais frutas decoradas em forma de bichinhos, para chamar mais atenção das crianças, como exemplo foi mostrado algumas fotos como:
Ao final da Roda de Conversa foi feita uma avaliação com os participantes, cuja respostas foram:
Pontos positivos (Que bom):
-Aprendemos mais
- Foi ótimo
- Foi positivo
- A participação efetiva
Pontos negativos (Que pena):
- a ausência dos professores
- ser no horário de almoço
Sugestões para melhorar (Que tal):
- Ser para todos os funcionários juntos
- Divulgar mais tudo que não sabia e o quanto a gente aprendeu.
“A palavra chave para melhorar a alimentação na creche e em domicílio é: incentivo! Ver o coleguinha comendo faz com que eles comam de tudo e repetem!” (fala de uma funcionária, auxiliar de cozinha)
“Eu duas vezes ao mês deixo meu comer a vontade, quando eu recebo. Meu filho que estuda na creche agora come de tudo e a minha mais velha tem muito medo de engordar e não come nada que é bom para a saúde”. (fala de uma mãe que participou). Foi solicitado a ela para rever o por que achava que estes alimentos industrializados eram os que deveriam ser oferecidos...
No dia seguinte em reuniões separadas foi repassado o relato da ação para a coordenadora pedagógica e para uma das nutricionistas da Secretaria Municipal de Educação sobre novas sugestões para o cardápio para as crianças – “ Novo cardápio”, e as questões levantadas pelos participantes na Roda de Conversa sobre o uso de tempero comprado pronto, da soja (proteína texturizada de soja) no lugar da carne; o uso de alimentos da agricultura familiar e entrega do Guia para a educação. Essa compreensão mútua dos resultados obtidos na roda de conversa é bastante significativa para garantir mudanças futuras e maior envolvimento de todos na promoção da saúde destas crianças.
O relatório final com apresentação de resultados e sugestões será entregue posteriormente a Creche e para a ESF Flor de Liz, para que realizem reuniões com pais/responsáveis e atendimentos necessários as crianças pela clinica ampliada. As orientações nutricionais individuais das em risco nutricional, conforme observado a necessidade, serão oferecidas pela nutricionista da ESF, com acompanhamento e intervenções necessárias.
Concluindo a implementação destas ações:
- O Plano de Ação inicial não foi realizado em sua totalidade, conforme planejado previamente. Mas o que foi feito muito nos auxiliará para elaborar novas ações futuras na creche e junto a ESF/NASF Flor de Liz.
- Em relação a maior dificuldade é sempre agendar e convencer as pessoas a participarem da atividade. Outra dificuldade é o transporte e a conciliação de horários para se realizar as ações.
- A facilidade foi a o desejo inicial da creche e a participação e exposição de dúvidas pelos participantes durante a realização da roda de conversa e apoio para realizar a antropometria.
- A implementação dessas ações, foi um grande aprendizado para mim. Me senti útil e atuante na busca de melhorias da qualidade de vida, principalmente dos mais pequeninos, nosso futuro. Com certeza devemos ser persistentes.
- Quanto às próximas ações educativas seria interessante firmar as datas para acontecerem as ações previamente, pois são muitas pessoas envolvidas e é muito difícil conciliar com todos e com suas prioridades. Eu tentaria ser mais ágil para perceber possíveis complicações.
- Acreditando que tudo é um processo e o atual momento que estamos vivendo não está dos melhores, continuaria realizando essas ações da mesma maneira de como foi feita, contornando ao máximo os obstáculos que surgiram.
- Percebi mais uma vez que muitos funcionários da saúde e da educação estão em diferentes disposições no trabalho e com várias prioridades, mas o que deve ser levado em consideração é o interesse dos usuários e a detecção precoce dos problemas. O trabalho em equipe é sempre mais vantajoso para todos.
Este trabalho não se encerra aqui e mais atividades já estão sendo almejadas como:
- Os acompanhamentos e melhoria do estado nutricional das crianças, com oferecimento de maior quantidade para os com baixo peso e melhor qualidade de alimentos,
- Construção conjunta do genograma para os interessados na comunidade, sobre as doenças nas famílias estudadas e para aqueles que desejarem propor que a ESF/NASF intervenha, posteriormente.
- Oferecer novas oficinas, inclusive sobre a água potável e promoção da saúde, junto com a Vigilância Ambiental – VIGIÁGUA da Vigilância em Saúde, para os pais ou responsáveis/professores/direção da creche.
- Discutir os diferentes contextos e o esforço transdiciplinar, elaborando um Projeto Terapêutico Singular (PTS), que é um conjunto de propostas de condutas terapêuticas articuladas, para um sujeito individual ou coletivo, visando também a busca da autonomia dos usuários, em conjunto com o serviço: NASF e ESF e maior mobilização social.
- Realizar a busca ativa dos beneficiários do Programa Bolsa Família, inclusive para a Primeira Vigência de 2016 – Condicionalidades da Saúde e encaminhamento para a Assistência Social e outros profissionais que se fizer necessários.
Revisão Bibliográfica
- Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Dez passos para uma alimentação saudável: guia alimentar para crianças menores de dois anos: um guia para o profissional da saúde na atenção básica / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – 2. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2010. 72 p.: il. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos).
____ Ministério da Saúde. Protocolos do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional Site: (189.28.128.100/nutricao/docs/geral/protocolo_sisvan.pdf.).
- GIUGLIANI, Elsa R. J. Problemas comuns na lactação e seu manejo. Supl/S147. Jornal de Pediatria. Sociedade Brasileira de Pediatria, 2004.8fl.
Ouro Preto, 12 de março de 2016.
Nutricionista Cleia Costa Barbosa – Ouro Preto/MG