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“Amamentação é muito mais que uma alimentação”, afirma conselheira

Em comemoração à Semana Mundial do Aleitamento Materno, celebrada de 1° a 7 de agosto, apresentamos uma entrevista com a conselheira do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), a pediatra Sônia Salviano. “Leite fraco não existe. Toda mulher produz o leite que o filho dela precisa”, explica ela.

A conselheira coordenou os Bancos de Leite Humano do Distrito Federal e também a Política Nacional de Aleitamento Materno do Ministério da Saúde. Além disso, presidiu do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria do DF e representa a Rede Ibfan Brasília – Rede Internacional em Defesa do Direito de Amamentar – no Consea.

Capacitação profissional

A Política Nacional de Aleitamento Materno e a Política Nacional de Alimentação e Nutrição precisam andar juntas porque é um somatório de uma com a outra. Acredito que as duas precisam caminhar mais no sentido de ampliar a capacitação de profissionais, especialmente da atenção básica, de forma que as famílias, em especial as mães, tenham a oportunidade de compreender o que é o leite humano, a forma de se praticar um aleitamento materno saudável e adequado e como introduzir a alimentação que não prejudique a criança.

Idade recomendada

A Organização Mundial da Saúde, o Ministério da Saúde, o Governo Brasileiro recomendam amamentação exclusiva, sem água, sem chá, sem nenhum outro alimento, até seis meses de idade. Depois dessa idade, a introdução dos alimentos complementares. Mas o que a gente vê quando monitora essas políticas é que muito menos de 50% das crianças de seis meses chegam mamando no peito exclusivamente. Crianças pequenas, até mesmo antes de um ano de idade, estão tomando refrigerantes. Isso é uma aberração na alimentação de uma criança. O uso de qualquer alimento açucarado vai condenar esta criança a uma doença no futuro.

Indústria alimentícia

A indústria está todos os dias, todas as horas, dentro dos lares, no Brasil e no mundo, dizendo que o produto industrializado é melhor. Então quando a mãe escuta e como a mãe vê isso diuturnamente, ela vai acreditar que isso é o melhor. O leite materno hoje, só é falado durante as campanhas, na Semana Mundial do Aleitamento e, às vezes, no dia de doação de leite humano. Isso precisa ser dito diariamente. A política precisa avançar na capacitação, ampliar mais a informação para o público em geral.

Legislação de proteção para lactentes

É importante o cumprimento da legislação que protege a infância nos três primeiros anos da alimentação inadequada, a Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças de Primeira Infância, Bicos, Chupetas e Mamadeiras (NBCAL). Essa norma existe no país desde 1988. Foi um dos primeiros do mundo a ter uma legislação. Hoje ela é uma lei. É a lei 11.265, sancionada em 2006. E se somando a essa lei existe um regulamento publicado em 2015 e existem resoluções da Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária].

Hoje basicamente quem vigia e monitora é a Rede Internacional em Defesa do Direito a Amamentar [na sigla em inglês, Ibfan – International Baby Food Action Network], que faz esse trabalho anualmente. Todas as infrações são mapeadas. Todos são notificados, inclusive o governo. A resposta a esse monitoramento é zero. Parece que ninguém se compromete. E precisa se comprometer. É a saúde do futuro das pessoas que está em jogo.

Mitos sobre amamentação

A partir do momento em que as mulheres foram estimuladas e foi passada a informação de que existia um leite parecido com o dela e que era mais fácil dar esse produto do que pôr no peito, muitas foram mudando o jeito de alimentar os bebês. Hoje, muitas mulheres se tornam mães sem nunca ter pegado numa criança.

O imaginário de como segurar uma criança já dificulta a retirada do leite do peito. Amamentar é complexo porque envolve uma compreensão integral de mãe com bebê, um aconchego, um segurar bem perto, reconhecer os reflexos do bebê. Abrir aquele superbocão para chegar no peito, abocanhando auréola e mamilo. Se o bebê mama só o bico, ele tira pouquinho leite. É o que vai machucar, é que vai doer, é o que vai causar desconforto nas mamas. Às vezes, o bebê chora mais um pouquinho. Ele pode chorar de fome porque ele está mamando errado. Não é porque falta leite ou o leite é fraco. Leite fraco não existe. Toda mulher produz o leite que o filho dela precisa. A natureza é perfeita. É sábia. Ela encaixa perfeitamente mãe com bebê.

A recomendação oficial para amamentação de dois anos ou mais traz um recado importante. A gente sabe que previne infecção, que previne muitas doenças, que previne muitas alterações inclusive de comportamento. Mas, particularmente, eu valorizo a presença de um nutriente que só existe no leite materno, que é específico para o desenvolvimento cerebral da criança até os dois anos de idade. O leite de peito é indispensável até os dois anos para a gente ter um bebê com inteligência saudável e superior.

Não existe esse limite de idade para amamentar. A mãe amamenta até quando ela quiser. Amamentação é muito mais que uma alimentação. É muito mais que os nutrientes presentes no leite. Amamentar é amar, é aconchegar, é nutrir, é qualificar, é desenvolver. É um processo único de mãe e filho.

Fonte: Ascom/Consea

Retirado de: http://www4.planalto.gov.br/consea/comunicacao/entrevistas/2018/201camamentacao-e-muito-mais-que-uma-alimentacao201d-afirma-conselheira

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